InvisíveisNeila Baldi style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">
Ele é um privilegiado: a empresa lhe concedeu ficar em casa na pandemia, sem risco de contaminação. Faz compras do supermercado pela internet, pede comida por aplicativo. Num click, tudo está às suas mãos. O interfone toca, é o entregador de pizza. Sai do apartamento, entra no elevador, cumprimenta o vizinho na porta. Desce até o térreo, passa pelo porteiro, vai até o portão, pega a pizza e volta para o seu lar. A rotina em casa segue neste mais de um ano. Nesse tempo, o primeiro entregador já morreu de Covid. A faxineira, dispensada para que ele não fosse contaminado - sem receber para ficar em casa - também. Faxineiros e faxineiras morreram 15% a mais este ano que no ano passado. EXCESSO DE MORTES Epidemiologistas usam o conceito de "excesso de mortes" para avaliar o impacto de uma pandemia, porque as pessoas podem não morrer diretamente pela enfermidade, mas por falta de hospital. Segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o Brasil teve mais de 275.500 mortes por causas naturais a mais que o esperado para 2020, um excesso de 22%. Os dados do Novo Caged mostram que o desligamento de trabalhadores e trabalhadoras por morte saltou de 8.633 nos dois primeiros meses de 2020 para 11.424 no mesmo período de 2021. Segundo o estudo, divulgado pelo El País, as ocupações com os maiores aumentos de mortes são as que dependem de contato direto com o público e não pararam na pandemia. As mortes de frentistas de posto de gasolina tiveram um salto de 68%. Entre operadores de caixa de supermercado, foram 62% e, no caso dos vigilantes, 59%. Essas pessoas morriam enquanto o cara da casa de vidro negava a pandemia e se negava a comprar a vacina - ao que parece, pelo que mostra a CPI, por causa de negociações de propina. REPUGNANTE Enquanto essas pessoas morriam, o personagem do início desta história seguiu vivo, protegido e fazendo planos depois da primeira dose da vacina. Ele disse que quer beber chopes cremosos com os parceiros sem medo de ser contaminado pelo garçom. Pessoas privilegiadas como ele sempre acham que quem contamina é o trabalhador ou a trabalhadora. Mas ele esquece que o garçom o atende de máscara, enquanto ele, sem máscara, conversa com os amigos desmascarados. Quem contamina quem? Uma das primeiras mortes por Covid no Brasil foi de uma empregada doméstica, no Rio de Janeiro, que teve contato com a patroa, contaminada em viagem à Itália. Nossa elite e os formadores e formadoras de opinião deste país são repugnantes.
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Cruella também existe fora da Disney Noemy Bastos Aramburú style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever"> O texto bíblico que fala da crucificação de Jesus, conta que, pela tradição, Pilatos era obrigado a liberar um preso em razão da Páscoa. Então, ele perguntou ao povo quem deveria ser solto: Jesus ou Barrabás. Este preso por fazer um tipo de terrorismo político homicida. Quando Pilatos perguntou ao povo se deviam soltar Jesus ou Barrabás, o povo bradou em voz alta que era para soltar Barrabás e crucificar Jesus. Qual seria a explicação para esta decisão do povo? Se de um lado temos Jesus, que dispensa comentários, e, de outro lado, temos um ladrão assassino? Alguns podem pensar que isso aconteceu porque aquele povo era romano (que não gostava de judeus) ou porque foi naquela época. Mas o certo é que a decisão foi de Cruella. E hoje, quem condenaríamos? Acredito que iríamos liberar Barrabás, pois a Cruella, infelizmente, é imortal. Aliás, a imprensa relatou uma façanha de Cruella em nosso Estado: foi encontrada na rua, numa das madrugadas mais frias, uma bebê recém-nascida, com cordão umbilical e coberta de sangue, pasmem, nua, expostas a uma temperatura de 3ºC e à sensação térmica de -0,7ºC. E o caso de Lázaro? Quem olhou o vídeo do momento em que Lázaro foi alvejado, que circulou pelas redes sociais, viu ele se entregando com as duas mãos para cima, momento em que são disparados tiros contra seu corpo. Ainda circula pelas redes, o vídeo que mostra Lázaro sendo tirado de uma camionete e colocado dentro de uma ambulância, já sem vida. Nestas imagens, é possível ouvir ao fundo vozes de pessoas vibrando com a morte de Lázaro. Se esta cena fosse de um filme, teria a cena da casa da família de Lázaro, onde sua mãe estaria chorando a morte do filho, enquanto via o corpo deste ser alvejado, arrastado e jogado dentro da ambulância. Enquanto isso, teríamos a cena da casa das vítimas agradecendo pela morte. Em outro espaço, os policiais seriam vistos festejando o trabalho realizado. Todos estes personagens têm suas verdades, seus sentimentos como alegria e tristeza. Porém, Lázaro é um único personagem do qual emanam todos essas sensações, alegria, tristeza e raiva, e a maior viagem de tudo isso é que todos atribuem Cruella a seu desafeto. Para a família de Lázaro, a polícia foi a Cruella, pois Lázaro era apenas um menino doente, que podia ser curado, ao invés de ser morto da forma covarde como aconteceu. Para a família das vítimas, Lázaro era a própria Cruella, pois estuprou e matou mulheres, idosos e adolescentes sem a menor compaixão. E para a polícia, quem é Cruella? Bem, isso só o tempo dirá, pois a novela ainda não chegou ao fim. O certo é que existe Cruella fora da Disney.
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